Quando era garota era fã incondicional do Michael Jackson (e ainda sou!). Quem me conheceu por esses tempos lembra-se com certeza. As paredes do meu quarto não tinham espaço livre tal era a quantidade de posters e recortes da Bravo que lá estavam colados. Na t-shirt que os meus primos me trouxeram do concerto dele em 92 cabiam 3 iguais a mim, mas vestia-a praticamente todos os dias. Ainda a guardo. O meu Pai não me autorizou a ir com eles, fiquei tão triste que acho até que ele se arrependeu. O MJ era meu amigo. Imaginava-me a passar férias no NeverLand Ranch, conversávamos sobre música e visitávamos os animais que ele lá tinha. Eramos mesmo amigos.
À medida que fui crescendo fui ganhando outros amigos, um deles é o Zé. Tornei-me amiga do Zé na faculdade. Fui à FNAC à procura de um livro para ler, sem a ideia de que para além de trazer de lá um livro iria também fazer um amigo. Depois de algum tempo a passear pelos corredores e a ler os resumos das lombadas dos livros (isto deve ter algum nome técnico que eu desconheço...) encontrei um que me chamou a atenção. Morreste-me. E como diria o Jerry Maguire you had me at hello! Morreste-me é muito mais do que alguém que amamos morrer, é essa pessoa morrer de tal maneira que a morte nos chega às entranhas. E era mesmo isso que me tinha acontecido. O meu Pai não morreu só, ele morreu-me, morreu-me até às entranhas. Apróximamo-nos das pessoas que têm coisas em comum connosco, dizem os mestres da Sociologia e a minha vida também. E foi assim que conheci o Zé. Comecei a ler o livro no metro mas não conseguia segurar as lágrimas e achei melhor lê-lo quando chegasse a casa. E nunca mais chegava a casa. Parecia o meu filho quando o pai lhe diz: quando chegarmos a casa vamos andar de skate, o garoto vai o caminho todo: já chegámos, já? Chorei baba e ranho, mesmo, e como eu gosto de chorar. Gosto de me emocionar. Pela primeira vez alguém conseguia explicar por palavras o que eu senti, sinto e sentirei o resto da minha vida. Parecia que o Zé tinha entrado no meu cérebro, descodificado as minhas emoções e depois tinha escrito um livro sobre isso. E foi assim que conheci o Zé. O livro que comprei nesse dia já não o tenho, ofereci-o a alguém na esperança que compreendesse o que eu senti, sinto e sentirei. Comprei outro igual. Mais tarde ofereci-o a alguém a quem sabia que iria ter exactamente o mesmo impacto que teve em mim. E teve.
Há uns meses fui com a canalhada toda ao parque de insuflaveis. A loucura devo confessar. Com o entusiasmo de ver o entusiasmo do meu garoto de 2 anos destemido a andar naqueles escorregas passo apressada por uma cara que me parece familiar. Era o Zé, o meu amigo. Nesta altura ele ainda não sabia que era meu amigo mas eu não me contive e tive que lhe ir dizer. Agarrei no Santiago por um braço, o Rui com a camara em punho, enchi-me de coragem e fui falar com o Zé. Achei que ele deveria saber que o que ele faz é muito bom e que mudou a minha vida e que ele era meu amigo. Estava tão nervosa que não lhe consegui dizer tudo o queria. Disse-lhe que estava a ler o Abraço, mas queria ter-lhe dito que chorei com a carta que ele escreveu para o filho, que me revejo na forma como ele admira as pessoas que o rodearam enquanto cresceu, que conheço Galveias sem nunca lá ter estado. Perguntou-me o meu nome e tratou-me por tu, eu era amiga dele há muitos anos mas ele só me estava a conhecer naquele instante. Acho que ele ficou contente por saber que eu era amiga dele há muito tempo, eu fiquei contente por lho dizer. Grande Zé, és meu amigo.
Irina, acho que acertaste em cheio ao dizer que ele já era teu amigo mesmo antes de o conheceres pessoalmente, porque os livros dele transmitem essa cumplicidade a quem os lê. Eu acho que o conheço muito bem, porque não leio os livros dele, eu leio o José Luís Peixoto. Um dia destes ele há-de também ser meu amigo ;)
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